Raio X do Kart Elétrico Por Cristian Peticov

No início deste ano, a pedido do Instituto Barrichello Kanaan, onde dou aulas de kart, fui experimentar um tipo diferente de kart, com motores elétricos. Na ocasião, eu já sabia da existência de tais karts, mas nunca no Brasil. Então fui, levando uma GoPro como companheira para registrar as primeiras impressões.

Ao chegar ao Kartódromo (arena KartFly, em Campinas, SP), fui muito bem recebido, e logo apresentado ao novo kart: com uma aparência meio esquisita, mais largo que o normal, com encosto de banco inteiriço, cintos de segurança e uma suspeita de que aquilo talvez não fosse tão forte como esperava, ou que não talvez seria capaz de me empolgar quando estivesse ao volante. Porém, após sentir o torque máximo do motor elétrico aplicado às rodas traseiras, minha opinião foi bem diferente… Tanto que,  no final deste texto, seguirão alguns vídeos para comprovar o argumento deste texto.


O Conceito elétrico: 100% de torque  já no primeiro instante.

Não sei quem já tem idade suficiente para ter brincado de “autorama” quando criança ou adolescente. Nesse brinquedo (aliás, que nunca deveria ter tido sua produção terminada), ao apertar um gatilho que libera a carga elétrica máxima ao pequeno motor dos carrinhos, tal carga elétrica provocava uma “súbita e fortíssima” aceleração do carrinho, até chegar a sua velocidade máxima. Emocionante não só pra quem era criança, mas mesmo para os pais da época, que se deliciavam vendo o brinquedo agir tal como em uma corrida de formula 1.

O Kart elétrico tem exatamente o mesmo conceito: um motor elétrico rotativo (como o usado em cortadores de grama, esmeris, bombas d’água, etc.) atrelado ao eixo traseiro do kart. Impulsionado por uma série de baterias (que nos karts que experimentei foram projetadas com peso reduzido, levando em conta a viabilidade do projeto), esse motor tem a capacidade de nos tirar da inércia até a velocidade máxima do kart em pouco mais de 6 segundos. Simples assim? Claro que não.

Nos karts elétricos em questão (que de antemão insisto que vale a pena  ir experimentá-los), além do motor e das baterias, há um processador de informações, sensores de rotação de motor, e um mapa de performance que não só regula a velocidade máxima, mas que também equilibra a aceleração, para que seja sempre a mesma, independente do peso do pilotos (em detrimento, claro, da duração da bateria). E, com um projeto que prevê um excedente de carga para que não haja esgotamento da bateria durante o tempo de performance, os projetistas e idealizadores do projeto (sim, são todos brasileiros), obtiveram um kart que abre o caminho para o futuro elétrico em competições de velocidade, até mesmo a exemplo da recente Formula-E.

Porém, antes que você ache que ao acelerar o Kart Elétrico você perderá o fôlego com o soco do banco nas costas, leve em conta o aspecto que o plano inicial desses karts são de suprir uma pista pequena, onde crianças e adultos (em família) possam se divertir com segurança (e com viabilidade financeira). Isso posto, vamos a algumas referências de comparação:


Kart Elétrico x Kart à combustão

Vou utilizar como referência o kart de aluguel oferecido no kartódromo da Granja Viana, em Cotia SP. Imagine uma reta onde esses 2 karts largam emparelhados. Ao pisar no acelerador, o kart à combustão certamente se movimentará primeiro, pois o acelerador é via cabo mecânico, que imediatamente abre o carburador, que quase instantaneamente passa a empurrar o kart. Porém, há neste caso a embreagem, que nem sempre consegue despejar todo o torque do motor mecânico às rodas – além do torque do motor à combustão crescer progressivamente.

Em contrapartida, o Kart Elétrico tem um processador que “pensa” durante quase meio segundo antes de liberar a potência para o motor (é como o “Fly by Wire” dos carros modernos). Porém, ao entender o acelerador no máximo e liberar a totalidade da carga elétrica para o motor, o faz quase “saltar” em aceleração, levando-o, como descrevi antes, aos 60Km/h em muito pouco tempo. Então, o kart elétrico “pularia na frente” do Kart à combustão (e é aí que está a diversão e trade-off desse conceito elétrico).

E a velocidade final? Como os karts elétricos que experimentei são limitados em 60Km/h, eles irão manter-se nessa velocidade, dando a impressão de “injeção eletrônica” limitando a velocidade máxima de um carro na estrada. E aí, os karts à combustão, por não terem limitadores, irão passar dos 60Km/h, provavelmente recuperando o espaço perdido, caso a reta seja muito grande.

Em uma pista de alta, o Kart à combustão levaria vantagem. Em uma pista bem travada, o Kart elétrico seria superior.


Mas e a diversão?

No Kart à combustão, você se diverte como esperado, pois muito provavelmente quem lê este texto já experimentou e sabe como funciona um kart à combustão. No kart elétrico, vale a surpresa do torque e equilíbrio do kart ligeiramente diferentes – extremamente divertido!

Segue abaixo então 3 vídeos:  primeiro narrando um pouco da minha experiência inicial no kart elétrico, o segundo mostrando 2 pilotos de pesos diferentes acelerando de maneira semelhante, e um terceiro vídeo mostrando um torneio ao estilo “time atack” que promovi entre os meus alunos com os karts elétricos, pois mostra que o conceito de kart elétrico pode ter vindo mesmo pra ficar.

Um forte abraço, e te vejo na pista!

Cristian Peticov – Canal Pista e Pilotagem
(youtube.com/pistaepilotagem)


Primeiras Impressões:

 

 

Aceleração igual, independente do peso:

 

 

Inverno Elétrico Pista e Pilotagem:

 

 

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